Observar é algo reflexivo

Observar sempre me transformou em alguém muito pensativo.
Depois que todos a minha volta parecem estar com alguém rotulado como "peguete" ou "namorado", eu comecei a pensar no meu futuro amoroso, já que sempre que penso no meu casamento, das minha mãos apertadas com a de alguém na sala de parto, sempre é um rosto inexistente.
Não tem alguém hoje, que imagino daqui uns anos ao meu lado, no altar de uma igreja, e acho que isso é bom, pelo menos não assisto comédias romântica e fico me iludindo com namoricos de ensino médio, nem fico pensando em alguém da virada do ano.
Já fui dessas, mas graças a Deus eu mudei. Parei de ler Capricho, parei de pensar no presente e só nele. Tenho outros planos. Quero trabalhar, estudar, conhecer pessoas, e só depois conhecer alguém na biblioteca da faculdade, que provavelmente estude Radio e Tv e use tênis de skatista e tenha os braço fechado de tatuagens.
As vezes me sinto mal em imaginar minha vida como nos livros, com um primeiro amor, ou um encontro escondido da minha mãe, ou um pedido de namoro todo especial e fofo. Essas coisas existem. Não sou dessas pessimistas. Acredito nessas coisas. Mas só acho meio raro.
Meu professor de química gosta de Oasis e pediu a namorada em namoro em todas as línguas.
É claro que ele nem imagina que eu sei disso. Nem que eu achava ele um fofo com tênis all star e óculos.
Nem eles sabem que pensei demais neles depois daquele dia. Uma conversa de 10 minutos e uma chuva posterior me vez tirar conclusões. E como sempre, vou escrever sobre.

Ela deveria ter combinado com duas amigas de ir num show de uns amigos da faculdade. Como não gosta de acessórios, não pensou em impressionar ninguém, não colocou anéis, brincos e pulseiras. Apenas uma calça jeans, uma camiseta branca, penteou o cabelo e pediu para sua mãe lhe levar ao espaço onde eles tocariam.
Suponho que ela tinha uns 17 anos, ou 18, mas sua mãe não deixava ela sair de carro. Suas amigas não eram do tipo que se arrumam e combinam se vão de saia ou shorts. Ela também não.
Chegando no lugar, um cheiro de cigarro, alguns rapazes e garotas nos cantos, alguns grupos de guitarristas passando o som, cantando sozinhos, o banheiro já estava sujo, já tinha um rapaz passando mal na porta. Casais abraçadinhos assistindo algumas bandas desconhecidas.
Ela teria sido convidada para ver o segundo show do irmão de sua amiga, e ao subir no palco, Ele foi a última coisa que ela reparou. Ele tinha uma tattoo no braço, o rosto já estava suado - as pessoas estão sempre suadas - e não era daquela beleza que chama a atenção de todas aquelas loiras de camiseta das bandas que gostam.
Não sei se ela já gostou dele desde a primeira vez, porque ela não disse. Não temos essas intimidade, alias, não temos intimidade nenhuma. Mas as vezes o jeito que a pessoa mexe na unha me inspira a imaginar sua vida.
Gostando ou não, se fosse eu, já ficaria chateada porque ele tinha namorada. E já nem falaria mais nada, desistiria de cara.
Mas não sei se ela era mais velha, e não sei como essas coisas acontecem. Mas ela ficou com ele, namorou com ele por 8 anos, casou com ele, cantou com ele, comprou uma apartamento com ele, e vai ter filhos com ele.
Vejo a vida deles, como de outros casais, como se estivessem num globo  de neve, onde tudo é lindo, brilha e conforme você vira o globo, a neve cai, e tudo fica iluminadinho e em câmera lenta.
Ela dentista, daquelas que bate na mão dos pacientes menininhos, que fica no Instagram quando não tem pacientes e quando chega em casa, ele já está sentado, a esperando para ver uma série de TV, e depois de jantar, conversam sobre os alunos dele.
E ele, professor de música. Apenas isso.
Se tem uma coisa que aprecio, são coisas que dão certo.
As vezes esteja iludida com o vídeo dela tocando violão e ele gaita, e talvez eles briguem muito, e talvez se separem ano que vem.
Espero que não.
É um casal lindo. Que se conheceu do nada. Ela poderia estar doente e não teria ido ao show. Ou ele nunca teria entrado na banda. Mas foram as forças cósmicas, o destino, a sorte, Deus, as promessas de alguém, o otimismo de alguém, o empurrão de alguém que fez eles se conhecerem, e depois disso, foram eles mesmos que contruíram tudo isso.
Nem os conheço.
Mas imagino que muita música ou texto tenha sido inspirado em pessoas desconhecidas. O olhar de alguém no ônibus. Uma experiência de alguém. O que importa é que eles me inspiraram.
E me fizeram a ter otimismo diante da vida e das coisas.
Talvez esteja inspirada pra escrever, ou esteja ouvindo muito indie, ou assistindo muitos filmes, ou precisando de alguém. Mas gosto de ver coisas encaixadas, como deveriam ser desde o nascimento de cada um dos dois, em meio a tanta bagunça, brigas e decepções, e insônia, e desaconchego, e desânimos e histórias tristes.
(03/01/2013 - 02h09min)

Comentários

Anônimo disse…
Nesse momento não sei o que dizer, um apenas gostei do seu texto não é o bastante, pois afinal, o que senti não parou nesse estágio, foi além disso. Cheguei a ver tudo o que descreveu e senti como se tudo se passasse na minha frente. Adoraria ler mais textos como esse e ficar sem saber o que dizer. Muitos beijos. =*
Heloisa disse…
simplesmente amei amiga!
Anônimo disse…
Lu,me senti muito orgulhosa,mais uma vez ,de ser sua mãe!você simplesmente é uma pessoa linda,surpreendente,especial.Sua habilidade romântica e criativa para escrever é única."Seus olhos veem o mundo de maneira singular".Te amo ! Mamis!